quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Crônica do Quinho: O LADRÃO

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Fonte: http://www.nivaldocordeiro.net/oladrao

O LADRÃO
Crônica do Quinho
02 de dezembro de 2009


Quinho estava indignado. Ali, no meio do Baú do Seu Pedro, a livraria grandona do Conjunto Nacional, tinha elevado o dedo indicador aos céus e, qual um tribuno, bradava: “É ladrão”.
– Calma, Quinho, você está chamando a atenção das pessoas.
– Mas é ladrão mesmo, esse Turco. É comunista igual aos outros. Que safadeza! Estão roubando na cara dura e ninguém faz nada.
– Mas Quinho, e a justiça social?
– Que justiça social? Existe alguma justiça que não seja social? Isso é conversa para boi dormir. Dinheiro de impostos é para a classe política e a burocracia se locupletarem. Nada tem a ver com justiça alguma. Pelo contrário, tem a ver com a injustiça. Veja o que o Kassab fez. Roubou toda a gente para brincar de imperador. É um ladrão pior do que batedor de carteira.
Fiquei olhando o Quinho. Parecia um juiz apocalíptico, julgando o prefeito. Não deixava de ter razão, todavia. A elevação do IPTU em São Paulo foi realmente um acinte, um desrespeito. Como ainda vivemos em uma democracia (Deus sabe até quando!) só resta a vingança das urnas.
– Sabe, doutor, falou Quinho voltando ao tom de voz normal, não deixa de ser irônico essa tunga tributária acontecer coincidente com o escândalo envolvendo o partido do prefeito em Brasília. É para isso que esses caras querem mais dinheiro, para bancar suas falcatruas e a vida mansa dos funcionários públicos. Na verdade, precisaríamos fazer como no Estado da Califórnia: submeter qualquer medida de elevação de impostos a referendo popular, com maioria qualificada. Acabaria essa pouca vergonha que temos visto. Todo ano os impostos sobem. Um roubo!
– Mas isso retiraria o manejo administrativo, Quinho.
– Que manejo administrativo que nada, doutor. Precisamos inserir na Constituição um mecanismo que proteja os que trabalham contra o arbítrio dos governantes mal intencionados. Ladrões! Exclamou, voltando a se exaltar.
– É, ficou salgado. São Paulo será talvez a cidade que mais cobra impostos de seus residentes.
– Isso está certo, doutor? Está errado. O Turco ladrão tratou os munícipes como vaca leiteira. É só apertar a teta que sai o leite. Precisamos de uma rebelião tributária para colocar as coisas nos eixos no Brasil.
– Mas foram os mais ricos os mais penalizados, repliquei.
– Doutor, não argumente assim. É como falam os comunistas. Eles maltratam todos os contribuintes, não só os ricos. O governo municipal está se portando de forma tirânica. A cidade é para servir os cidadãos e não o contrário. A única coisa boa é que os ricos pagam o preço de sua incúria política, pois apóiam políticos comunistas.
– Pois é, estão colhendo o que plantaram.
– Mas não serve de consolo, pois o prejuízo é geral e a liberdade ficou asfixiada pela supertributação. Os paulistanos precisam reverter isso.
– Sabe, Quinho, você está certo. É de indignar.
É preciso agir, doutor. O mal em política não se corrige sozinho. É preciso agir, falou como que olhando para dentro de si.
– Vou indo, Quinho.
– Abraço, doutor. Não se esqueça do IPTU.
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Comento: Os "negritos" são meus.

Discordo, veementemente, da expressão "Roubou toda a gente para brincar de imperador"!

Nenhum dos nossos Imperadores pode ser chamado de 'ladrão'. Muitos menos o poderiam os seus sucessores - Dona Isabel, D. Pedro de Alcântara, D. Pedro Gastão - todos educados para serem Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil.

Feita esta ressalva, atribuída a expressão a um coloquialismo do personagem (confundindo "imperador" com "monarca absoluto", o que nunca tivemos), há muitas verdades inequívocas nessa crônica:

* precisaríamos fazer como no Estado da Califórnia: submeter qualquer medida de elevação de impostos a referendo popular, com maioria qualificada.

*Precisamos inserir na Constituição um mecanismo que proteja os que trabalham contra o arbítrio dos governantes mal intencionados.

*Precisamos de uma rebelião tributária para colocar as coisas nos eixos no Brasil.

*A cidade é para servir os cidadãos e não o contrário.

* o prejuízo é geral e a liberdade ficou asfixiada pela supertributação.

*O mal em política não se corrige sozinho.

Para a nossa reflexão, diante do republicanismo delirante e galopante que nos acomete.

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