sábado, 21 de novembro de 2009

A Educação em tempos jacobinos ou quase fascistas

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Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2009/11/21/a-grande-fraude-243167.asp

21.11.2009 - 8h4min


A grande fraude

Cristovam Buarque *

Há décadas, indicadores denunciam o trágico quadro da educação de base.

Mas foi preciso o Exame Nacional do Ensino Médio ser usado no lugar vestibular e ser vítima de uma fraude para que a situação do Ensino Médio aparecesse.

Enquanto o ENEM não estava ligado à universidade, seus resultados mereciam pouco destaque, ainda que indicassem uma tragédia.

Quando se pergunta como explicar essa vergonha educacional em uma das grandes potências econômicas do mundo, a resposta está na preferência brasileira pelo topo da sociedade, não pela base.

Cuidamos mais das universidades do que da educação de base.

Um exemplo é que a quase totalidade dos que defendem cotas raciais para ingresso na universidade não lutam pela abolição do analfabetismo, nem pelo aumento no número dos jovens negros que terminam o Ensino Médio.

Outro exemplo é o Brasil se preocupar com o fato de termos apenas 13% dos jovens de 18 a 24 anos – chamada idade universitária – cursando a universidade, sem considerar que apenas um terço dos alunos que se matriculam no Ensino Médio consegue concluí-lo. Hoje, o número de vagas para ingresso na universidade é de 2,8 milhões, maior do que o número dos que terminam o Ensino Médio, 1,8 milhão.

Mas as mobilizações são pelo aumento de vagas na universidade, e não pela conclusão do Ensino Médio.

O resultado é uma universidade sem base: os alunos entram sem condições de seguir plenamente o curso que escolheram e sem base complementar ao conhecimento específico de seu curso.

As universidades sofrem um dilema: ficar com vagas ociosas ou ter vergonha dos alunos.

Mesmo os que terminam o Ensino Médio recebem uma formação deficiente.

De acordo com o PISA – que avalia o resultado da educação no mundo –, em 2006, 55,5% dos alunos brasileiros foram reprovados com nota abaixo do nível 2, na escala até 5. E 27,8% deles ficaram abaixo do nível 1.

A educação de base do Brasil está em 39º posição entre 56 participantes. Atrás de países como Jordânia e Indonésia, cujas rendas per capita são R$8.160 e R$5.950, respectivamente, bem menores do que a brasileira, que é de R$16.490.

A grande fraude não está no vazamento de informações nas provas para o ENEM-Vestibular para ingresso na universidade, mas nos resultados do ENEM-Avaliação da qualidade do Ensino Básico no Brasil.

Termos notas tão baixas no ENEM é uma fraude maior do que o crime de se apossar dos resultados das provas do ENEM.

E essas notas medem apenas o desempenho dos alunos que concluem o Ensino Médio, sem considerar os que ficaram para trás.

A fraude das fraudes é apenas um terço dos nossos jovens concluírem o Ensino Médio, e de pouca qualidade.

Quase universalizamos as matrículas nas primeiras séries do Ensino Fundamental, mas desprezamos a assistência, a permanência e o aprendizado.

A verdadeira e grande fraude do ENEM está escondida: é a exclusão e o baixo desempenho dos alunos do Ensino Médio. A fraude é o ensino, e não o ENEM.

Mas a grande fraude – a exclusão dos jovens e as baixas notas do ENEM – não importava para a opinião pública, até que ela ameaçou a lisura da seleção para entrar na universidade. A grande fraude era invisível.

A maior fraude não está na ilegalidade de quebrar o sigilo das provas, mas no péssimo e imoral desempenho dos que nelas passaram.

Se a solução para a fraude menor está em melhorar o sistema de preparação das provas, incluindo o sigilo, a fraude maior só será superada por uma revolução na Educação de Base.
Entre as ações estão a criação de uma Carreira Nacional do Magistério e um Programa Federal que assegure a todas as escolas horário integral, com professores bem formados, bem dedicados, bem remunerados e com acesso aos mais modernos equipamentos.

Felizmente, a sociedade começa a despertar: o movimento “Todos pela Educação” reúne empresários; o “Pacto pela Educação”, promovido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) reúne cientistas; o “Movimento Nacional pela Educação” reúne os maçons; o “Movimento Educacionista” reúne sobretudo os jovens.

*Cristovam Buarque é senador pelo PDT-DF
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comento: Ainda não tinha lido um diagnóstico tão sintético e qualificado, nestes tempos jacobinos ou quase fascistas em que vive o Brasil, como este do Senador Cristovam Buarque.

Esta fraude que é a Educação nessa república é apta, sem dúvida, para criar o homem-massa, analfabeto funcional, desinformado, governado pelo ouvido - seja das letras de música sem conteúdo, seja pelos impactos de sucessivas campanhas publicitárias que fazem esquecer as anteriores, seja pelos discursos contraditórios de políticos que apostam na ilogicidade e na ignorância como base de suas retóricas.

E para que essa fraude? Para manipular as massas, quais rebanhos dóceis e amestrados, na direção do matadouro daquilo que faz o homem homem, o "especificamente humano".

Tempos jacobinos ou quase fascistas? Tempos de trevas, sem dúvida alguma.

Para adoçar a pílula trevosa o senador coloca sua esperança em "movimentos"... Vã esperança! Fala, ainda, em "Carreira Nacional do Magistério e um Programa Federal que assegure a todas as escolas horário integral, com professores bem formados, bem dedicados, bem remunerados e com acesso aos mais modernos equipamentos". Que equívoco!

Carreira nacional e programa federal de escolas, quer dizer apenas: mais ações do governo republicano federal, o mesmo que tem desenhado e implementado essa "grande fraude", que lhe aproveita, vão indicando os acontecimentos atuais... Entregar a guarda do galinheiro às raposas?

A educação ou começa nas famílias ou não começa. Se não começa, não chega a lugar algum, obviamente.

Mas "chegar a algum lugar", como merecem os brasilianos / brasileiros, como merece o Brasil, implica em um outro quadro de referências culturais e de valores, inencontrável na república a que o Brasil está submetido há 12o anos!

Se a monarquia permitirá florescer esse "novo quadro de referências culturais e de valores"? Sim, começando pela correta separação entre a Chefia de Estado, incumbência do Imperador, e da Chefia de Governo, expressão da vontade das urnas e dos cidadãos. No Império não existirá a possibilidade de o Estado ser ocupado por um partido ou coalizão de partidos para seu benefício e exploração. Uma nova realidade institucional, capaz de eliminar, na raiz, e prevenir a "fraude na Educação".

Um comentário:

Palude1986 disse...

O Império foi uma escola de estadistas.

A "Nova República" tem sido, até o presente momento, uma escola de analfabetos, se é que pode existir tal coisa.