sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Racismo? Racialismo? Caminhos da república de hoje . . .

Fonte: http://noracebr.blogspot.com/
Postado por NoRace, 17.11.2007, 15h52min



O marketing do racialismo explícito


Por José Roberto F. Militão
Advogado, membro da Comissão de Assuntos Anti- Discriminatórios – CONAD-OAB/SP. robertojmilitao@aasp.org.br


Publicado, originariamente, no site da Afropress (clique aqui)É relevante a notícia veiculada na Afropress, de 15/11 "Troféu consagra talento de reitor para negócio de eventos" (clique aqui). Na semana pp.recebi os convites para o evento Troféu Raça Negra. O convite era familiar, extensivos à esposa e meus três filhos, e todos os homens deveriam ir de "smoking" e a mulher de longo social.

Ponderei com a ilustre portadora do convite que tal condição era incompatível com as condições financeiras de 90% dos convidados. Ela disse que cada um "alugue" a sua roupa, pois sem ela não poderiam ter acesso ao luxuoso local do evento. Evidente que a ilusão ótica de uma platéia de 1.500 convidados, pretos e pardos, elegantes e vestidos à rigor, falseiam a realidade social do Brasil.

Conforme a pretensão dos organizadores – a OnG da Universidade Zumbi de Palmares - seria uma oportunidade para o prestígio pessoal onde se reúnem as principais lideranças do movimento negro de todo o Brasil ao lado das principais autoridades do país, dentre elasgovernadores de São Paulo e Rio de Janeiro com ampla cobertura publicitária e jornalística nos principais veículos de comunicação.

Por educação recebi os convites e agradeci a distinção e a gentileza da amiga portadora, mas não compareci ao evento, que repudio, uma vez que não sou racialista, sou apenas um convicto ativista contra o racismo que não admite a existência do conceito de raças, admitindo apenas a única espécie humana. Os humanos são brancos, pretos, pardos, amarela etc., enfim, humanos têm a natural cor da pele.Sucede que tal como a revista Raça Negra da editora Escala, essas atividades de marketing racial não se destinam a promover melhores condições sociais e de cidadania aos afro-brasileiros, destinando-se a uma nova ideologia que surge entre nós – o racialismo – que exige a existência política de uma Raça Negra reforçando no imaginário público a idéia de um falacioso pertencimento racial que nós, afro-brasileiros, não temos. Nossos avós eram homens e mulheres "de cor". Eles não eram e jamais quiseram ser da Raça Negra.

Afinal o que é o racialismo? O racialismo é uma concepção política concebida por militantes de movimentos negros, nos EUA e agora no Brasil, que admite a convivência com o racismo, desde que o direito dos afro-brasileiros estejam assegurados. O racialismo admite conviver com a doença do racismo. O racialismo admite a existência de uma "raça" estatal e exige que o poder público faça leis segregando direito a fim de assegurar a inclusão dos afrobrasileiros. O racialismo quer que o racismo seja explicitado, em vez de ser sutil e constrangido, conforme ocorre no Brasil. Os defensores do racialismo pensam que estão combatendo ao racismo, mas, na verdade, estão combatendo apenas os efeitos e, ao mesmo tempo, aprofundando a causa que é a crença racial.

Essa matéria da Afropress e outras já publicadas nos revela que o racialismo serve para que sejam oficializadas políticas públicas raciais e através delas, se façam políticas pública de divisão racial com seus efeitos colaterais: mais racismo. Esse marketing racial serve também para que alguns mais espertos passem a viver disso e a fazer bons negócios privados à custa do racismo. Mesmo que sejam negócios para fazer o marketing da "raça negra" . Mesmo que a platéia esteja fantasiada com suas vestes alugadas e felizes com o evento estavam servindo, involuntariamente, para a preservação do racismo.A ideologia da divisão humana em raças é uma doença social que flagela aos afro- descendentes em qualquer lugar do mundo. É uma doença que pode e deve ser combatida. Como doença o esforço a ser feito é para a sua destruição e não a convivência com a doença, conforme pregam os defensores do racialismo.

Neste sentido prestam um grande desserviço no combate ao racismo os que usam e abusam do marketing da "raça negra", a partir da boa fé ou da consciência pesada de governantes que não fazem as políticas públicas de redução das desigualdades sociais e de empresários que não alteram suas políticas internas vincadas por preconceitos e discriminações raciais, já que é menos complexo e sai muito barato agradar a aproveitadores em nome da "raça negra".Creiam, são essas atividades de marketing racial que fazem os políticos – e muitos militantes - acreditarem na existência de uma "raça negra", exatamente aquela que o racismo edificou no século XVIII para oprimir as "raças inferiores" e, especialmente, a "raça negra" a base inferior da pirâmide racial.
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comento: Fica bem claro, então, quem, nesta situação e contexto, está do lado do Brasil e quem não está.

Uma outra excelente avaliação do tema e, inclusive, do seu significado na História do Império do Brasil, está no post 13 de Maio: Dia da Vitória do Movimento Abolicionista no Brasil, de Miriam Martinho, colocado por NoRace, 15h27min, em 16.11.2009, em http://noracebr.blogspot.com/.

A Constituição Política do Império do Brasil, de 25.3.1824, sempre foi clara:
Art. 1. O IMPERIO do Brazil é a associação Politica de todos os Cidadãos Brazileiros. Elles formam uma Nação livre, e independente, que não admitte com qualquer outra laço algum de união, ou federação, que se opponha á sua Independencia.

O golpe de 15.11.1889 não deixou a Monarquia integrar na comunidade nacional os ex-escravos libertados no 13 de maio daquele mesmo anos e transformados em plenos "cidadãos brasileiros" - e a república, este regime mais que lamentável para o Brasil, nada fez neste sentido, até o dia de hoje, inclusive.

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