domingo, 13 de março de 2011

Scliar, uma tonalidade literária

Acompanhei, pela internet, em conversa com o Roberto, o dia em que Moacyr tomou
posse na Academia Brasileira de Letras. Ele no Rio de Janeiro, eu em Porto Alegre. Foi
um dia particularmente gratificante: já fazia um tempo que eu comentava em voz baixa
que Scliar era a grande oportunidade de o Rio Grande do Sul sentar-se na Academia, se
não até mais do que isso.

A roda do Tempo não permitiu que ele chegasse ao Prêmio Nobel de Literatura, que eu
antecipava possível e, com certeza, muitíssimos de seus leitores, mundo afora,
gostariam.

A confluência de seu talento como escritor com a sua formação de médico voltado para
a saúde pública, com a sua inserção cultural judaica no ambiente em transformação de
Porto Alegre, trouxe-lhe uma situação “personalizada” no conjunto dos escritores
gaúchos.

Foi apanhado em cheio pela consolidação de Porto Alegre como metrópole, um dos 10
pólos macrorregionais que polarizam o Brasil. De capital provinciana a metrópole
aberta para o mundo. O Bom Fim, desta forma, teve ampliado o seu horizonte. A obra
de Moacyr Scliar agradece tudo isto e nos encanta.

Tive ocasião de estar-lhe próximo em três ou quatro das vezes em que esteve em nossa
cidade. De nenhuma me arrependo. Santa Maria ficou mais rica com suas vindas e seus
bate-papos voltados para todos, em particular para os acadêmicos de nossas faculdades.
Ano passado, na 37.ª Feira do Livro, em noite de chuvarada, ele deu o ar de sua graça.
Foi nosso derradeiro encontro.

Se a Música pudesse ser o parâmetro para as demais Artes, diria que Scliar, na
literatura, demarcou uma obra de cadência notável e de uma tonalidade singular. Uma
obra aberta para o mundo de todas as culturas, mesmo quando perfumando suas páginas
com valores bem identificados com sua vida. Valores que remanescem entre nós, seus
leitores. Valores com validade por prazo indeterminado.

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