domingo, 13 de março de 2011

A finitude & Moacyr Scliar

Saber-se finito, limitado, mortal, eis algo que teoricamente todos e cada de um de nós
deveria saber e ter consciência disto o tempo todo. Não é o que acontece, todavia.
Sempre somos surpreendidos pela Realidade.

Até “imortalidades” criamos para uns poucos, como os integrantes das academias
literárias, mas, exatamente, não passam de imortalidades “literárias”.

Os fatos se sucedem, como na guerra do trânsito, nas seqüelas do tráfico de drogas, na
violência que bem humanamente nos acomete no Brasil e choca pelo número de mortos
a cada ano, na casa dos milhares, como se de fato estivéssemos numa guerra
convencional ou assimétrica. Sem falar nos tantos que são ceifados por doenças para as
quais não temos solução.

Mesmo assim, as mídias nos apresentam um modelo de sociedade que só tem jovens,
pouco mais que adolescentes. Quase que dividindo nossa população em “jovens há mais
tempo” e “jovens há menos tempo”, tais são os apelos comerciais de toda ordem. Um
solene desrespeito à realidade e às estatísticas demográficas.

Via de regra apenas quando os acontecimentos nos são próximos saímos da
massificação e nos damos conta do valor das pessoas e de nós mesmos.

A morte de Moacyr Scliar oferece, então, uma oportunidade de repensar nosso mundo,
diante da finitude, manifestada em personagem público e importante. Um personagem
muito próximo de todo o público leitor. Daqui e de muitos pontos do planeta.

Martin Buber fornece a ferramenta de análise. Ou o espaço humano é enquadrado num
plano dialógico, do tipo Eu-Tu, ou, como na maioria das vezes, se esvai num plano de
manipulação e descartabilidade, do tipo Eu-Isso.

Na busca de superar os dilemas reais da experiência humana, os livros de Scliar
apontam para um dialógico Escritor-Leitor, não manipulativo, sem descarte e sem o
domínio da falsidade. Esta lição sintetiza sua carreira literária e aponta para o mundo
que pode ser melhor para todos nós, mesmo que não esgote o tema, inobstante as
dificuldades, os tropeços e a morte.

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