segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Quem disse que que 120 anos depois o golpe original está superado?

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Fonte: http://www.jaymecopstein.com.br/

"Deus lhe pague" (19.10.2009)

Jayme Copstein

O comentário de Elio Gaspary, ontem, na Folha de São Paulo, sobre o rumo das telecomunicações no Brasil, faz lembrar “Deus lhe pague”, de Joracy Camargo, sucesso de palco na década de 1930. Simplificando, o enredo contava a história de um falso mendigo, enriquecido com esmolas extorquidas à hipocrisia da sociedade.

Se a privatização livrou o Brasil do seqüestro de que fora vítima pelas gangues apossadas das antigas estatais, a incompetência e a corrupção de governantes – é difícil estabelecer a fronteira entre uma e outra, tão íntimas que são – entregou o país a uma nova malta de saqueadores, apenas mais espertos, porém não menos vorazes: cobram o resgate como o falso mendigo da peça, tostão por tostão.

É só fazer um cálculo rápido. Tomando-se apenas a metade arredondada da média entre o 1,07 e 0,07, preços máximo e mínimo cobrados pelas operadoras de celular, multiplicando-se os 25 centavos resultantes pelos 152.364.986 linhas móveis hoje ativas no país, segundo números da Anatel, chega-se ao assombroso faturamento conjunto de mais de R$ 38 milhões em cada minuto de uso desses aparelhos. Se fizermos modesto exercício de imaginação, supondo que essa rede imensa seja utilizada apenas 100 minutos em cada 24 horas, o faturamento diário totaliza quase 4 bilhões de reais. Faturamento diário, repita-se.

Não estão computados aí os serviços de banda larga, verdadeiros cágados se comparados aos dos Estados Unidos, Europa e Ásia, mas com toda certeza vendidos a preço das Ferraris da Fórmula 1. Na montanha de dinheiro reside a explicação para a despreocupação das operadoras em relação às multas supostamente milionárias que lhes são aplicadas pela Anatel.

Tudo nisso vem a propósito do estrilo de Otávio Marques de Azevedo, presidente do Grupo Andrade Gutierrez, referido por Gaspary em sua coluna, sobre a intenção do Governo de criar o provimento estatal de banda larga, para levar a Internet a todo o país e suprir a ausência do serviço em regiões cujos habitantes não têm renda suficiente, considerando-se os preços cobrados, para arcar com o “luxo” de se conectar com o presente.

O Grupo Andrade Gutierrez, associado ao Grupo Lafonte, de Carlos Jereissati da Oi, adonou-se recentemente da Brasil da Telecom. O episódio gerou falatório nos jornais, mas não teve consequências porque este é o país da impunidade ampla, geral, irrestrita e sacramentada. Contudo, um de seus executivos não vê inconveniente em qualificar a iniciativa do Governo de retrocesso e exigir a indissolubilidade do casamento com os novos “mendigos”, já que o país em 1998 renunciou ao modelo de estatização. É como se nos dissessem que perdemos o direito de escolher o “mendigo” a quem dar a “esmola”. Ou, melhor dito, de desalojar os “mendigos” que se adonaram dos “pontos”, estabelecendo novo monopólio nas portas das igrejas.

Em um ponto, indiretamente, Azevedo da Andrade Gutierrez tem razão: o Governo não teria necessidade de estatizar nada caso se dispusesse a exigir das operadoras de telefonia que cumprissem o papel que lhe foi atribuído quando se adjudicaram às respectivas concessões. Mas como exigir-lhes algo mais que multas rituais, se o próprio Governo tornou-se cúmplice da batota, mudando a legislação para permitir o esbulho da Brasil Telecom, enquanto o filho do presidente da República fazia excelente negócio com um dos interessados? Falta-lhe moral para exercer a autoridade.
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comento: Terá alguém dito que 120 anos depois do golpe original (15.11.1889) tudo está superado e o Brasil, realmente, encontrou-se com o seu Destino? Se disse, terá sido num contexto de pesadelo ou de embriaguez...

Parece incontestável que o Brasil carece de um rumo definido, de uma visão de longo prazo, de um acerto de contas com a sua História. A república, pois é à ela que o arguto colunista da web se refere ao falar em "Governo", quer tenha tido consciência disto ou não, não tem jeito.

Do "encilhamento" de Ruy Barbosa, passando pelo servil decalque da constituição americana dos primeiros 'constituintes', tudo o que clama o Brasil é pela sua defesa diante do assalto de seus inimigos, principalmente internos: ´tenentes - anos 20, 1930, a "vassoura" janista, 1964, "diretas já", "constituinte", "nova república", "caça aos marajás"...

Mas, bem como assinalou o autonomeado Barão de Itararé: "deste mato não sai coelho!"

E mão sai mesmo!!!

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