sábado, 16 de janeiro de 2010

J. Bicca Larré, sobre o mundo e o Brasil de hoje: "Revolução passiva" . . .

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Fonte: http://www.clicrbs.com.br/dsm/rs/impressa/4,1304,2778797,13928

Diário de Santa Maria, Santa Maria - RS, Caderno MIX, 16.1.2010, N.º 2396, p. 9


Revolução passiva

Parece curioso que tenham praticamente desaparecido de cena as palavras “comunismo” e “comunista”. Curiosamente, o desuso é dos próprios comunistas e dos seus contumazes opositores.

Isso veio com a queda do muro de Berlim e o fracasso do regime comunista da União Soviética. A sobrevida do regime ficou restrita à China moderna e quase capitalista. Na América do Sul, a partir do moribundo regime cubano, irradiaram-se várias tentativas, não mais de comunismo, mas de socialismo.

A Revolução Cubana, liderada por Fidel Castro, coadjuvado por Che Guevara, foi o último exemplo de implantação de regime comunista por meio da luta armada e sangrenta.

Cessaram então as tentativas esquerdistas? Não. Apenas mudou a tática. Não mais os manuais leninistas e stalinistas de promover a união operário-camponesa, armar e doutrinar os trabalhadores e levá-los a aventuras como as guerrilhas urbanas e rurais, que tanto sangue já fizeram jorrar, em lutas fratricidas e inconsequentes.

Antônio Gramsci (1891-1937) foi um pensador, jornalista, sociólogo, pesquisador e escritor italiano, que passou muito tempo preso e foi um dos fundadores do PCI. Entre outras obras, escreveu Os cadernos do cárcere, em que se opunha aos métodos revolucionários do marxismo, do leninismo e do stalinismo. Defendia uma única via possível de tomada do poder: a “revolução passiva”, sem armas, sem sangue. Segundo ele, era possível alcançar a hegemonia do poder, pela própria democracia, com atos “democráticos”, por meio de decisões aparentemente legais, tomadas por decisões das supremas cortes e do poder congressual. E essa é a praxe atual, usada por Hugo Cháves, Evo Morales, Lula etc. Quem pode dizer que Chaves não foi eleito democraticamente e que sua perpetuação no poder não foi aprovada pelo Congresso Venezuelano? Quem pode dizer que o bigodudo Manuel Zelaya não foi eleito pela vontade da maioria dos hondurenhos e que seu governo não era legítimo?

Assim, os atos chamados “democráticos”, praticados ou tentados por lá e por aqui (contra a liberdade de imprensa, ou como o projeto mais recente de criação do programa de “Direito à Memória e à Verdade”) sempre trazem um artifício, um ardil, uma arapuca escondida, como o punhal de Brutus sob a toga do senador romano. Essa é a técnica pregada por Gramsci em 35.
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